Acidentes de trabalho, batida no trânsito, pancadas na prática de esportes, inserção no corpo estranho no olho: na maioria dos casos em que ocorre o trauma ocular, a situação aconteceu por descuido. A palavra trauma provém do grego e significa ferida, machucado. Este machucado pode ter conseqüências severas. Pesquisas apontam que o trauma ocular é a causa mais importante de perda de visão unilateral, principalmente em países em desenvolvimento. E, na avaliação de especialistas, 90% dos traumas poderiam ter sido evitados.
Para a oftalmologista Mônica Andrade, do Hospital de Olhos de Sergipe (HOS), ainda falta conscientização da população a cerca dos problemas que o trauma ocular pode trazer. “É primordial termos conhecimento do real impacto em nossas vidas, para que isso sirva de estímulo para a conscientização em massa. Pois bem, estima-se que quase metade dos atendimentos de urgência oftalmológica seja decorrente de trauma e que metade desses traumas acontece em pessoas com menos de 25 anos” coloca a oftalmologista.
Ou seja, a faixa etária mais afetada é a mais produtiva da população. “ Isso gera um ônus social muito grande, pois além do custo com o tratamento, temos que contar com as aposentadorias por invalidez em pacientes jovens”, coloca Mônica. Outro dado importante mencionado por Mônica Andrade é que, ao considerar a perda visual nos primeiros dez anos de vida, o trauma é responsável por um terço dos casos.
Entenda o risco nas situações mais simples
Com relação às situações em que o trauma pode acontecer, Mônica Andrade reforça a importância de avaliar cada momento. “Podemos perceber que o risco está intimamente ligado ao pensamento de que é uma situação banal, que não haverá problemas ou que é uma coisa rápida. A verdade é que sempre há o risco e não podemos esquecer disso. No trânsito, houve um grande impacto na redução dos traumas após o uso obrigatório do cinto de segurança e capacete, vendo-se, em algumas estimativas, a redução de até 60% no número de comprometimento ocular. É lamentável ver que muitas pessoas ainda ignoram a importância dessa proteção, não somente em relação à proteção ocular, como também na prevenção de lesões em todo o corpo e até mesmo de morte” coloca a oftalmologista.
Outro importante causador de trauma ocular é a prática de esportes. Nesse caso, Mônica explica que os esportes com bola tem destaque. “Principalmente futebol, talvez por ser o mais praticado, mas não podemos deixar de lado as artes marciais”, pontua.
Acidentes de trabalho também ocupam o papel de destaque, muitas vezes, devido a negligência. O não uso dos equipamentos de proteção é a causa principal. “Outra situação vergonhosa é o aumento dos casos de agressão física, cada vez por motivos banais, muito relacionados ao uso de álcool e outras drogas”, destaca Mônica.
De acordo com a oftalmologista o problema também atinge as crianças. Acidentes domésticos são os mais comuns, com objetos pontiagudos (não esquecer os brinquedos) e substâncias químicas. Animais de estimação, cigarro e agressão física também entram na lista.
O que fazer para evitar um trauma?
Após essa avaliação, é hora de perguntar: o que fazer para evitar o trauma? “Simples gestos fazem a diferença: uso do cinto de segurança e do capacete, transportar as crianças de forma correta e nunca no banco da frente; usar os equipamentos de proteção no trabalho; ter cuidado ao manusear objetos com extremidades perfurantes e nunca puxá-los em sua direção; manter plantas venenosas e pontiagudas fora da altura dos olhos e longe das crianças; ter cuidado ao manusear produtos químicos; sempre supervisionar crianças e mantê-las afastadas de objetos de risco, inclusive cigarros e fogão”, aconselha a oftalmologista.
A importância da conscientização das conseqüências do trauma ocular é o primeiro passo para evitar descuidos. Caso não tenha sido possível prevenir o trauma, Mônica Andrade aconselha procurar com urgência o oftalmologista para avaliação dos danos e tratamento apropriado. “Nada de colocar chás, leites ou misturas caseiras. Lave somente com água limpa, exceto se houver suspeita de perfuração, onde não se deve fazer nada, além de procurar especialista” pontua.Autor: Jornal da Cidade – Caderno Bem Estar