Em 2012, a venda de óculos falsos representou 41% do total de vendas de óculos no país, de acordo com levantamento do Fórum Nacional contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP). Em 2010, essa parcela tinha sido de 36%. Apesar de serem capazes de melhorar a visão momentaneamente, os óculos piratas – os de grau e os de sol – representam um grande risco para a saúde ocular, tanto por atrasar o diagnóstico de doenças importantes quanto por trazer prejuízos diretos aos olhos.
Para alertar a população sobre os riscos do uso de óculos falsos, a Associação Brasileira da Indústria Óptica (Abióptica), em conjunto com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), desenvolveu uma campanha chamada “Olho Vivo”, que trará anúncios em revistas e na internet.
O mercado ilegal vem crescendo a cada ano: de acordo com levantamento feito pelo Instituto Meirelles de Proteção à Propriedade Intelectual (Imeppi), com base em informações da Receita Federal, entre 2006 e 2012, 70 milhões de unidades de óculos falsificados foram apreendidos no Brasil.
De acordo com oftalmologista Milton Ruiz Alves, presidente do CBO, o principal problema de aderir aos óculos de grau comprados em camelôs ou lojas de comércio informal é que o usuário deixa de ir ao oftalmologista e perde a chance de receber o diagnóstico de doenças graves.
“Uma pessoa com 40 anos de idade que começa a ter dificuldade de leitura e que compra um par de óculos no camelô para melhorar a visão de perto deixa de fazer o exame de fundo de olho, capaz de diagnosticar um glaucoma”, diz Alves.
Ele acrescenta que essa negligência é o principal motivo pelo qual mais da metade das pessoas que recebem diagnóstico de glaucoma nos principais hospitais de referência do país já são cegas de um olho e tem um prejuízo importante do outro. “Elas não sabem que têm a doença porque nunca passaram por exame oftalmológico”, afirma.
Deixar-se levar pela comodidade dos óculos de “pronta-entrega” também pode fazer um quadro de diabete passar despercebido. A doença não controlada pode levar o paciente a perder a visão de forma irreversível em 10 anos.
Segundo Alves, mesmo se a pessoa não tiver uma doença ocular grave, só o fato de ela passar a usar óculos com grau inadequado pode ser suficiente para causar problemas. “Um grau inadequado pode levar a uma estafa da visão, ao desvio ocular e ao desconforto”, diz o oftalmologista.
Além disso, o grau informado por esse tipo de produto pode nem corresponder ao grau real dos óculos: segundo Bento Alcoforado, presidente da Abióptica, de 25 milhões de óculos apreendidos nos últimos anos que foram analisados por órgãos especializados, apenas 92 mil estavam de acordo com as regras da ABNT, o que corresponde a menos de 0,4% do total.
Óculos de sol
Alves explica que, quando uma pessoa usa óculos de sol, a pupila se dilata naturalmente porque o organismo entende que está em um ambiente escuro. Se esses óculos não tiverem a proteção adequada contra os raios UVA e UVB, aumenta a chance de degeneração da mácula, região mais sensível da retina, o que pode levar à catarata. Ou seja: usar óculos de sol inadequados é mais prejudicial à visão do que não usar óculos algum.
Como identificar
Para Bento Alcoforado, da Abióptica, a principal estratégia para evitar a compra de óculos falsificados é procurar uma ótica de confiança, que tenha sido referenciada por um médico oftalmologista e que coloque à disposição do cliente o maquinário para identificar as propriedades de proteção contra raios UVA e UVB dos óculos escuros.
“Pode-se também observar a textura dos óculos, verificar o acabamento e movimentar as hastes para ver se tem um movimento correto. Também se recomenda desconfiar de preços muito abaixo do mercado”, diz Alcoforado. Ele acrescenta que existe um programa de certificação de óculos que está em análise no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). A expectativa é que, a partir do ano que vem, já exista um selo capaz de certificar a qualidade dos óculos produzidos no país.Autor: Bem Estar/ Globo