Ceratocone é uma doença ectásica (ectasia quer dizer afinamento ou enfraquecimento) da Córnea que tem se tornado cada vez mais frequente nos nossos consultórios. Afeta principalmente crianças no final da primeira década de vida, adolescentes e adultos jovens. Estudos recentes têm mostrado uma incidência de até 6% entre as pessoas que procuram um oftalmologista para correção visual. Se não for detectada corretamente, pode causar perda visual importante e necessidade de transplante da Córnea.
Descrita inicialmente pelo médico britânico John Nottingham em 1854, foi nos últimos 20 anos que ocorreu uma verdadeira revolução no diagnóstico. O exame computadorizado da superfície anterior da Córnea, conhecido como Topografia Corneana, na década de 90, possibilitou detectar as fases iniciais da doença. Mais adiante, no início dos anos 2000, a Tomografia Corneana permitiu a caracterização das superfícies posterior e anterior da Córnea aumentando a sensibilidade e especificidade para o diagnóstico da doença subclínica. Ou seja, com a Tomografia da Córnea conseguimos diagnosticar antes do aparecimento de sinais ou sintomar. Isso é algo de excelência em qualquer área da Medicina.
Mas como suspeitar?
Normalmente, a doença se manifesta com aumento do astigmatismo e piora progressivamente da qualidade visual. Se outras pessoas da família tiverem o diagnóstico também é um bom motivo para fazer uma avaliação. Ou seja, se você ou seus filhos usam óculos e frequentemente o grau de suas lentes aumenta, uma avaliação da Córnea pode ser bem-vinda. Estudos recentes apontam para uma situação corriqueira, aparentemente inocente, mas que está relacionada em mais da metade dos casos: o simples ato de coçar os olhos. O trauma mecânico consecutivo é capaz de deformar, afinar e enfraquecer (ectasia, como descrito anteriormente no texto) o tecido corneano. Pacientes alérgicos coçam os olhos com frequência e fazem parte de um grupo de risco para o aparecimento do problema. Portanto, crianças alérgicas precisam fazer uma avaliação oftalmológica e corneana complementar.
Como é o tratamento?
Antes de tudo precisamos entender que o tratamento é personalizado. Isso quer dizer que não existe um tratamento padrão para todos os casos. Cada um deve ser estudado de forma individual para saber o que é melhor em determinada situação. O papel da orientação clínica é fundamental. Colírios antialérgicos de múltipla ação como a olopatadina e alcaftadina, além da otimização da superfície ocular incluindo suplementação alimentar com ômega -3 (ácidos graxos essenciais) e lágrimas artificiais podem, associados ao apoio psicológico, reduzir a frequência do ato de coçar os olhos. A forma mais eficaz de reabilitação visual é a utilização de lentes de contato especiais. Apesar disso, não existem evidências sustentáveis que o uso de lentes de contato evite o progredir da doença.
O tratamento cirúrgico evoluiu muito e não pensamos mais em transplante convencional como antigamente. Outras cirurgias se apresentam como alternativas ao transplante. Destacando-se o implante de anel intracorneano, que foi introduzida pelo médico brasileiro Paulo Ferrara e hoje realizado em todo o mundo. Outra forma de tratamento é através da indução de ligações covalentes no colágeno da Córnea, conhecido como Crosslinking corneano.
Outros procedimentos como os implantes de lentes intraoculares, que são úteis para casos com alta miopia associada, e a ablação de superfície avançada com excimer laser, que regulariza a Córnea e pode melhorar a qualidade visual, são válidos para os mais variados casos.