Junho Violeta: especialista alerta para os riscos trazidos por Coçar os Olhos
Coçar os olhos parece um ato aparentemente inofensivo, não é mesmo? Mas, pode ser o primeiro sinal ou mesmo o causador de uma doença ocular das mais comuns a atingir a córnea: o Ceratocone, que afeta uma em cada duas mil pessoas – conforme dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) – e cuja maior incidência acontece na adolescência. Durante todo este mês, inclusive, uma campanha de conscientização e prevenção, chamada Junho Violeta, busca alertar para os riscos deste hábito.
Fotofobia, irritações, ofuscamento, embaçamento e/ou distorções moderadas são alguns dos sintomas desta doença ocular, que causa mudanças estruturais nas fibras de colágeno da córnea, tornando-a mais fina e em formato de cone. Ocasionalmente, ela é confundida com miopia ou astigmatismo, e por isso, é de extrema importância que o diagnóstico seja feito por um médico especialista, já que quanto mais cedo for descoberta a doença, menores são as consequências, é o que evidencia o oftalmologista Allan Luz.
“Por definição, o Ceratocone é uma doença progressiva, assimétrica e bilateral, ou seja, acomete os dois olhos, podendo se desenvolver mais em um do que no outro e vai piorando ano a ano. Quanto mais avançada a doença, mais fina a córnea fica. Então é muito importante o diagnóstico precoce, para que seja tratada desde o início e para que o paciente não tenha nenhuma perda visual”.
Embora alguns casos tenham, de fato, origem genética, o Ceratocone pode decorrer de outras condições oftalmológicas que causam coceira dos olhos como Olho Seco e Alergias Oculares, cada vez mais comuns na sociedade devido a mudanças no estilo de vida, advindos do uso frequente e irrestrito de computadores, tablets e smartphones.
“Esse ato de coçar está muito ligado também ao olho seco e a alergias oculares. Até algumas décadas nós só relacionávamos a pacientes com mais de 40 anos, por causa da deficiência aquosa, mas hoje afeta muito crianças e adolescentes, por causa do olhar excessivo de telas e monitores. E quanto mais se coça os olhos, mais se causa atrito e esse dano vai levar a um afinamento da córnea e ao Ceratocone”.
Especialista em Córnea e Ceratocone e pioneiro em técnicas cirúrgicas no Estado para tratar desta doença ocular, ele aponta que quanto mais precoce o diagnóstico, geralmente também mais agressivo o caso. “A chance maior de se chegar ao transplante é quando se tem o diagnóstico em crianças, a doença vai ser muito agressiva ao longo da vida”.
Inicialmente, o tratamento de Ceratocone é feito com o uso de óculos e lentes de contato rígidas. Mas à medida que a doença avança, outras indicações podem ser feitas, como Cross-linking de colágeno, Implante de Anel de Ferrara ou nos casos mais graves, o transplante da Córnea, que no Hospital de Olhos de Sergipe, pode ser feito na modalidade lamelar, em que apenas as camadas doentes são transplantadas, o que proporciona uma melhor recuperação do paciente e menor risco de rejeição.
“Como qualquer outra doença, quanto mais cedo você trata, melhor o resultado. O Cross-linking de colágeno é um procedimento minimamente invasivo e que pode estabilizar ou retardar a progressão em mais de 80% dos casos. Os implantes de anel são mais indicados para reverter os quadros de perda de visão e também é um procedimento minimamente invasivo. Tudo que é feito é pensando em se evitar a necessidade de um transplante. Mas até o transplante hoje é mais seguro com a técnica em que transplantamos apenas as camadas danificadas, como também temos um avanço na utilização do laser, que auxilia na cicatrização”, finaliza o especialista do HOS.