Em alusão ao Dia Nacional do Doador de Órgãos e Tecidos, celebrado neste sábado (27), Dr. Allan Luz concedeu entrevista ao Portal de Notícias F5 News para falar sobre transplante de córnea.
Confira a matéria na íntegra:
87% das famílias vetam o transplante de córneas
Esta semana é dedicada ao doador de órgãos e tecidos no estado de Sergipe. De acordo com o Sistema Nacional de Transplantes, órgão ligado ao Ministério da Saúde, o Brasil ocupa o segundo lugar no mundo em volume de transplantes, e o primeiro se for considerada a relação número de transplantes x Produto Interno Bruto (PIB). Um dos tipos mais comuns de transplantes, hoje, e único realizado em Sergipe, o de córnea, que é feito após a morte e mediante autorização da família do falecido.
O transplante de córnea, procedimento cirúrgico delicado de forma manual, possibilita dar a pessoa transplantada o benefício de voltar não só a ter visão, como a possibilidade da qualidade de vida. Todas as pessoas que não têm doença infectocontagiosa podem ser doadoras de córnea, após a morte. Na cirurgia, a camada da córnea danificada é removida e a saudável do doador é colocada.
Há três tipos de transplantes: Transplante de Córnea Penetrante; Transplante Lamelar e Transplante Lamelar Posterior, este último o primeiro a ser realizado no estado pelo Hospital de Olhos de Sergipe (HOS). A córnea um tecido transparente muito fino de 500 micras de espessura. “É como se pegasse um centímetro e dividisse ao meio”, afirma o médico oftalmologista Allan Luz do HOS.
Segundo ele, a córnea tem várias camadas. Uma determinada doença pode acometer uma ou mais camadas. “A indicação do transplante vem principalmente pela doença de base e a baixa da visão que vai ocorrer com o progredir da doença, seja em uma camada ou em todas. Quando você tem uma doença na córnea associada com a baixa visual, aí deve fazer o transplante”, explica. Ao ser removido, a córnea pode ser captada até 6 horas depois do óbito e ser transplantada até 14 dias após essa captação. Para o médico, um certo privilégio em relação aos outros órgãos que precisam ser retirados e transplantados praticamente de forma imediata. “Inclusive, na doação de múltiplos órgãos a córnea normalmente é a última a ser removida”.
Somente as camadas da córnea que estão doentes são as que serão transplantadas, as saudáveis permanecem. “Se a camada A está doente, somente essa será transplantada. Mas, se a doença progrediu e está alcançando outras camadas, vai remover todas elas. Esse último é o mais tradicional, realizada desde a década de 80 e tem extremo sucesso”, ressalta. Entre as doenças principais indicadas para o transplante estão o Ceratocone e a Distrofia de Fuchs. No Ceratocone, o paciente é acometido com baixa visual e relata ao médico mudanças frequentes na prescrição de óculos ou diminuição na tolerância ao uso de lentes de contato. Em menos de um ano o grau aumenta rapidamente. Já no diagnóstico da Distrofia de Fuchs, não há relação com grau, mas a visão fica embaçada devido à córnea aumentar a espessura, aparecendo edema ou inchaço.
Dificuldades
Apesar das campanhas de conscientização realizadas o ano inteiro, algo que aumenta o número de doações, 87% das famílias se recusam a autorizar, de acordo com dados da Central de Transplantes do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) . “Para as famílias isso tem que ter muita conversa porque a nossa cultura não é de doar, a gente sempre tem medo, tem sempre um mito relacionado a isso. Tem pessoas que não estão enxergando porque não é feita doação. O transplante pode ajudar pessoas que estão realmente sem enxergar a voltarem uma atividade funcional, a trabalhar, a ter qualidade de vida. Acredito que a gente está melhorando em termo de cultura, de educação, de assistência à saúde, tudo isso deve fazer com que melhore um pouco mais um índice de transplante e de doação de órgãos e tecidos”, afirma Allan Luz.
“Existe, sobretudo, preconceito com relação a transplante por parte das famílias. Já ouvir casos de pessoas falarem que não autoriza porque quer que o pai ou a mãe sejam enterrados por inteiro. Infelizmente no Brasil há cultura desse tipo. Tudo isso acaba dificultando ainda mais”, acredita Diego Menezes de Araújo, de 26 anos, transplantado nos dois olhos, através do SUS em duas clínicas especializadas em Sergipe. Portador de Ceratocone ele descobriu aos 15 anos de idade. “Para mim foi um choque, eu nunca tinha tido nenhum problema relacionado à visão, nunca tinha usado óculos. Apesar do Ceratocone ser uma doença hereditária, não há em minha família nenhum outro caso. Já problemas oculares em geral, há casos de glaucoma e miopia. Quando tinha 14 anos, eu comecei a sentir necessidade de usar óculos. Procurei o médico, ele passou óculos que fez efeito nos primeiros dias, mas dois meses depois não surtia o efeito esperado. Ele passou um grau maior e em pouco tempo aconteceu a mesma coisa. Procuramos outro médico, daí tivemos o diagnóstico”, lembra.
Segundo ele, o olho direito estava mais prejudicado que o esquerdo. Apesar de ter feito tratamento com lente de contato rígida, não se adaptou, e a única alternativa foi o transplante. Na fila de espera em 2006 fez o primeiro transplante no olho direito de forma emergencial. Para o olho esquerdo foi mais demorado, apenas em 2010 conseguiu ser transplantado, por não ser prioridade. A recuperação, para ele, foi complicada devido às limitações. Uma delas foi ficar 45 dias sem abaixar a cabeça ou pegar peso, além dos medicamentos e colírios a serem usados.
Diego ainda sofre com limitações, tem astigmatismo e não dirige. No entanto, após a cirurgia obteve melhora, e o impedimento de ter uma vida normal lhe deu a certeza de que a operação era a melhor solução.
Transplantes
Em Sergipe, foram realizados em 2013, 121 transplantes de córnea segundo dados da Central de Transplantes. Este ano, até o momento conta-se 87 cirurgias. Até 2008 a Central contabilizou 457, 102 (2009), 82 (2010), 138 (2011) 143 (2012) transplantes de córnea. Além disso, 79 pessoas estão na lista de espera para receberem o transplante. Já o transplante de órgãos como Coração apenas dois foram realizados desde 2008; 108 cirurgias de Rim até 2012 e 15 no Osso até 2010.
De 2009 até 2014 foram contados 353 doadores de córnea e quatro de córnea e rim. Somente de rim apenas dois, e 14 de múltiplos órgãos. Os transplantes realizados pelo SUS contam 70,44%, particular e convênio em torno de 10%. “A nossa fila que já foi grande em torno de três anos, hoje se restringe a seis a nove meses de espera. Que foi uma melhora substancial. Acredito que nesse ano vai superar o número de transplantes do ano passado. Até porque a fila está andando mais rápido e se consegue fazer mais cirurgias. Só no HOS temos mais de 30% de transplantes realizados esse ano. Do ponto de vista médico, o grande avanço são os transplantes lamelares, quando só transplanta as camadas doentes. Em breve estaremos fazendo o transplante a laser. Está para chegar a Sergipe e será uma grande novidade para o final do ano ao começo de 2015”, completa.
Especialistas apontam geralmente os resultados visuais após transplante de córnea são muito satisfatórios. Porém, os principais riscos de um transplante de córnea são: falência primária e rejeição. É importante o diagnóstico e o tratamento precoce para a recuperação. A visão do paciente depende também da integridade de outras estruturas oculares. Após o transplante, pode levar meses para a visão atingir seu potencial, porém após algumas semanas o paciente já poderá perceber melhora.Em alusão ao Dia Nacional do Doador de Órgãos e Tecidos, celebrado neste sábado (27), Dr. Allan Luz concedeu entrevista ao Portal de Notícias F5 News para falar sobre transplante de córnea.
Confira a matéria na íntegra:
87% das famílias vetam o transplante de córneas
Esta semana é dedicada ao doador de órgãos e tecidos no estado de Sergipe. De acordo com o Sistema Nacional de Transplantes, órgão ligado ao Ministério da Saúde, o Brasil ocupa o segundo lugar no mundo em volume de transplantes, e o primeiro se for considerada a relação número de transplantes x Produto Interno Bruto (PIB). Um dos tipos mais comuns de transplantes, hoje, e único realizado em Sergipe, o de córnea, que é feito após a morte e mediante autorização da família do falecido.
O transplante de córnea, procedimento cirúrgico delicado de forma manual, possibilita dar a pessoa transplantada o benefício de voltar não só a ter visão, como a possibilidade da qualidade de vida. Todas as pessoas que não têm doença infectocontagiosa podem ser doadoras de córnea, após a morte. Na cirurgia, a camada da córnea danificada é removida e a saudável do doador é colocada.
Há três tipos de transplantes: Transplante de Córnea Penetrante; Transplante Lamelar e Transplante Lamelar Posterior, este último o primeiro a ser realizado no estado pelo Hospital de Olhos de Sergipe (HOS). A córnea um tecido transparente muito fino de 500 micras de espessura. “É como se pegasse um centímetro e dividisse ao meio”, afirma o médico oftalmologista Allan Luz do HOS.
Segundo ele, a córnea tem várias camadas. Uma determinada doença pode acometer uma ou mais camadas. “A indicação do transplante vem principalmente pela doença de base e a baixa da visão que vai ocorrer com o progredir da doença, seja em uma camada ou em todas. Quando você tem uma doença na córnea associada com a baixa visual, aí deve fazer o transplante”, explica. Ao ser removido, a córnea pode ser captada até 6 horas depois do óbito e ser transplantada até 14 dias após essa captação. Para o médico, um certo privilégio em relação aos outros órgãos que precisam ser retirados e transplantados praticamente de forma imediata. “Inclusive, na doação de múltiplos órgãos a córnea normalmente é a última a ser removida”.
Somente as camadas da córnea que estão doentes são as que serão transplantadas, as saudáveis permanecem. “Se a camada A está doente, somente essa será transplantada. Mas, se a doença progrediu e está alcançando outras camadas, vai remover todas elas. Esse último é o mais tradicional, realizada desde a década de 80 e tem extremo sucesso”, ressalta. Entre as doenças principais indicadas para o transplante estão o Ceratocone e a Distrofia de Fuchs. No Ceratocone, o paciente é acometido com baixa visual e relata ao médico mudanças frequentes na prescrição de óculos ou diminuição na tolerância ao uso de lentes de contato. Em menos de um ano o grau aumenta rapidamente. Já no diagnóstico da Distrofia de Fuchs, não há relação com grau, mas a visão fica embaçada devido à córnea aumentar a espessura, aparecendo edema ou inchaço.
Dificuldades
Apesar das campanhas de conscientização realizadas o ano inteiro, algo que aumenta o número de doações, 87% das famílias se recusam a autorizar, de acordo com dados da Central de Transplantes do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) . “Para as famílias isso tem que ter muita conversa porque a nossa cultura não é de doar, a gente sempre tem medo, tem sempre um mito relacionado a isso. Tem pessoas que não estão enxergando porque não é feita doação. O transplante pode ajudar pessoas que estão realmente sem enxergar a voltarem uma atividade funcional, a trabalhar, a ter qualidade de vida. Acredito que a gente está melhorando em termo de cultura, de educação, de assistência à saúde, tudo isso deve fazer com que melhore um pouco mais um índice de transplante e de doação de órgãos e tecidos”, afirma Allan Luz.
“Existe, sobretudo, preconceito com relação a transplante por parte das famílias. Já ouvir casos de pessoas falarem que não autoriza porque quer que o pai ou a mãe sejam enterrados por inteiro. Infelizmente no Brasil há cultura desse tipo. Tudo isso acaba dificultando ainda mais”, acredita Diego Menezes de Araújo, de 26 anos, transplantado nos dois olhos, através do SUS em duas clínicas especializadas em Sergipe. Portador de Ceratocone ele descobriu aos 15 anos de idade. “Para mim foi um choque, eu nunca tinha tido nenhum problema relacionado à visão, nunca tinha usado óculos. Apesar do Ceratocone ser uma doença hereditária, não há em minha família nenhum outro caso. Já problemas oculares em geral, há casos de glaucoma e miopia. Quando tinha 14 anos, eu comecei a sentir necessidade de usar óculos. Procurei o médico, ele passou óculos que fez efeito nos primeiros dias, mas dois meses depois não surtia o efeito esperado. Ele passou um grau maior e em pouco tempo aconteceu a mesma coisa. Procuramos outro médico, daí tivemos o diagnóstico”, lembra.
Segundo ele, o olho direito estava mais prejudicado que o esquerdo. Apesar de ter feito tratamento com lente de contato rígida, não se adaptou, e a única alternativa foi o transplante. Na fila de espera em 2006 fez o primeiro transplante no olho direito de forma emergencial. Para o olho esquerdo foi mais demorado, apenas em 2010 conseguiu ser transplantado, por não ser prioridade. A recuperação, para ele, foi complicada devido às limitações. Uma delas foi ficar 45 dias sem abaixar a cabeça ou pegar peso, além dos medicamentos e colírios a serem usados.
Diego ainda sofre com limitações, tem astigmatismo e não dirige. No entanto, após a cirurgia obteve melhora, e o impedimento de ter uma vida normal lhe deu a certeza de que a operação era a melhor solução.
Transplantes
Em Sergipe, foram realizados em 2013, 121 transplantes de córnea segundo dados da Central de Transplantes. Este ano, até o momento conta-se 87 cirurgias. Até 2008 a Central contabilizou 457, 102 (2009), 82 (2010), 138 (2011) 143 (2012) transplantes de córnea. Além disso, 79 pessoas estão na lista de espera para receberem o transplante. Já o transplante de órgãos como Coração apenas dois foram realizados desde 2008; 108 cirurgias de Rim até 2012 e 15 no Osso até 2010.
De 2009 até 2014 foram contados 353 doadores de córnea e quatro de córnea e rim. Somente de rim apenas dois, e 14 de múltiplos órgãos. Os transplantes realizados pelo SUS contam 70,44%, particular e convênio em torno de 10%. “A nossa fila que já foi grande em torno de três anos, hoje se restringe a seis a nove meses de espera. Que foi uma melhora substancial. Acredito que nesse ano vai superar o número de transplantes do ano passado. Até porque a fila está andando mais rápido e se consegue fazer mais cirurgias. Só no HOS temos mais de 30% de transplantes realizados esse ano. Do ponto de vista médico, o grande avanço são os transplantes lamelares, quando só transplanta as camadas doentes. Em breve estaremos fazendo o transplante a laser. Está para chegar a Sergipe e será uma grande novidade para o final do ano ao começo de 2015”, completa.
Especialistas apontam geralmente os resultados visuais após transplante de córnea são muito satisfatórios. Porém, os principais riscos de um transplante de córnea são: falência primária e rejeição. É importante o diagnóstico e o tratamento precoce para a recuperação. A visão do paciente depende também da integridade de outras estruturas oculares. Após o transplante, pode levar meses para a visão atingir seu potencial, porém após algumas semanas o paciente já poderá perceber melhora.