Ainda adolescente Mário Ursulino já havia escolhido a oftalmologia como profissão. Após destacar-se como aluno da Universidade Federal de Sergipe e ser pioneiro em técnicas oftalmológicas na região nordeste, conciliou a prática médica a atividade classista.
Hoje, à frente da Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia (SBAO), ele prioriza a ampliação dos canais de comunicação e abre possibilidades para a associação de estudantes e profissionais ligados à administração em oftalmologia.
Fundador e Diretor do Hospital de Olhos de Sergipe e Mestre em Oftalmologia pela UFRJ, em 1986 ele introduziu no Recife a cirurgia da miopia e a de catarata com implante de lente intraocular. Em 1993, foi o pioneiro da cirurgia de catarata pela técnica facoemulsificação e em 1998 tornou-se um dos responsáveis pela implantação do primeiro Excimer Laser no Estado. Recentemente, levou para Aracaju o primeiro curso de especialização em oftalmologia aprovada pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
Universo Visual: Por que a oftalmologia?
Mário Ursulino: Na adolescência, quando ia para consulta oftalmológica ficava passeando pelo consultório e dizia ao meu pai, odontólogo, que queria ser oftalmologista.Prestei vestibular decidido pela especialidade que seguiria e atuei como monitor de oftalmologia, na faculdade.
UV: Qual é a missão da SBAO e qual os serviços que a entidade oferece aos associados?
Ursulino: A sociedade visa ajudar o especialista a conhecer melhor a gestão oftalmológica, capacitando-o e atualizando-o. Entre as atividades, realiza bianualmente o Congresso Brasileiro de Administração em Oftalmologia, intercalando com o Congresso Internacional de Administração em Oftalmologia, onde há vasta troca de experiências nas diferentes áreas do negócio.
UV: Qual a importância da administração na rotina do oftalmologista?
Ursulino: Não adianta conhecer as mais modernas técnicas diagnósticas e cirúrgicas e não saber gerenciar o serviço (recepção, lentes de contato, telefonia, etc). A SBAO visa diminuir os percalços enfrentados pelos profissionais na prática diária pela falta de preparo durante o curso de medicina. Aliás, pouquíssimas residências médicas no Brasil têm aulas sobre administração. A carência do saber nessa área é grande, embora muitos colegas ainda não tenham percebido o devido valor da gestão.
UV: É diferente gerir uma clínica (consultório, hospital) oftalmológica quando comparada às demais especialidades? Caso afirmativo, explique.
Ursulino: É diferente porque além da consulta há um leque de exames complementares. Daí, a oftalmologia brasileira ter criado a SBAO há 16 anos para ajudar o médico e sua equipe a conhecer melhor sobre gestão desses serviços. Que eu saiba, na oftalmologia das Américas, além do Brasil, somente os Estados Unidos tem algo similar como a American Society of Ophthalmic Administrators (ASOA), criada há 26 anos.
UV: Em sua opinião, quais os pontos críticos vivenciados pelo oftalmologista ao administrar os serviços?
Ursulino: O objetivo da formação médica sempre foi o de ensinar a diagnosticar e tratar doenças. Ao nos depararmos com o primeiro consultório e com a necessidade de coordenar o trabalho de pessoas, negociar com convênios, evitar glosas, planejar financeiramente os custos da clínica, percebemos a lacuna. A falta de visão e preparo quanto às ferramentas básicas necessárias para administrar o consultório, clínica ou serviço oftalmológico é o ponto frágil que surge durante a caminhada de gerenciamento. Graças a SBAO e ao trabalho de muitos colegas, a realidade está sendo modificada de maneira sutil, contínua e positiva.
UV: No universo brasileiro, a realidade dos serviços são muito dispares? Como a SBAO pode auxiliar numa equalização?
Ursulino: As políticas de saúde no Brasil são muito diferentes. É um problema estrutural e o resultado é um importante desequilíbrio nos diversos serviços oferecidos. Visamos conscientizar os colegas sobre a necessidade do trabalho conjunto, de formarmos uma classe que trabalha em prol de ideais comuns. A SBAO possibilita a sintonia voltada para o mesmo foco, oferecendo ao mesmo tempo uma visão estratégica e mais elaborada tecnicamente.
UV: Para os oftalmologistas que estão começando (ou que já acumulam um longo caminho, mas querem se atualizar) qual o seu conselho?
Ursulino: Para manter-se atualizado, depois de concluir uma boa residência e especialização, o oftalmologista deve assistir e dar aulas em congressos (aprende-se muito estudando para dar aula) e serviços no Brasil e/ ou exterior, ler revistas científicas e estudar. Se o objetivo for à administração, será necessário ler livros da área, frequentar cursos e congressos da SBAO e levar a sua equipe (administrador, enfermeira etc.) para esses eventos, motivando-os no seu crescimento. Também seria indicado fazer um MBA em gestão ou associar o serviço oftalmológico a uma escola conceituada, para que os colaboradores evoluam junto com a empresa.
UV: De forma resumida, como foi sua trajetória profissional? Quando e onde se formou e fez residência médica e quando iniciou a participação corporativa?
Ursulino: Aprovado em 1975 na Universidade Federal de Sergipe e na Escola Baiana de Medicina optei por estudar na minha cidade natal e seis nos depois obtive o 1º lugar geral entre os formandos desta Universidade (todos os cursos). Fiz residência no CEPOA-RJ, chefiado por Dr. Joviano de Rezende – o maior oftalmologista que convivi até hoje – e após concluir o mestrado, em 1986, retornei para Aracaju. Sete anos depois assumi a Presidência do Congresso Norte-Nordeste de Oftalmologia e depois fui eleito o 1° Presidente da COOESO, em Sergipe. Na minha região, fui pioneiro no primeiro transplante de córnea, facectomia extracapsular, eratotomia radial, facoemulsificação, retinopexia e, recentemente, a primeira implantação das lentes artisan e cachet e no glaucoma: as cirurgias com endociclofotocoagulador e por ex-press. Sob a orientação científica do colega Renato Ambrósio Jr. e com a dedicação do conterrâneo Allan Luz, conquistei, em 2005, o 1º lugar (co-autoria numa equipe de três médicos pesquisadores) com o tema livre sobre “Curva de Progressão Paquimétrica” apresentado durante do XXXIII Congresso Brasileiro de Oftalmologia em Fortaleza, através de um trabalho desenvolvido no Hospital de Olhos de Sergipe (HOS), serviço que fundei e hoje conta com aproximadamente 100 colaboradores. Considero um feito, pois raramente um trabalho desenvolvido fora do eixo Rio-São Paulo é contemplado.
Em processo de ampliação e de abertura de filiais, o HOS obtive credenciamento do CBO para iniciarmos em março, o 1º curso de especialização em Oftalmologia de Sergipe. Há quatro anos, fui indicado e eleito à vicepresidência da SBAO, exercendo o cargo dois anos e em maio de 2010 assumi a presidência da mesma a qual me encontro atualmente.
UV: Como o senhor encontrou a SBAO ao assumir e qual o legado deixará para o seu sucessor?
Ursulino: A SBAO é fruto de uma sequência de boas gestões e a atual diretoria cumpriu o desafio de manter a excelência. No próximo mês de maio, em São Paulo, durante o VII Congresso Internacional de Administração em Oftalmologia, transmitirei o cargo para o professor e amigo, Flávio Rezende, que, com competência e capacidade técnica, fará um excelente trabalho. Ele receberá a SBAO organizada e apta para manter a projeção atual na oftalmologia brasileira.
UV: Quais as suas expectativas para o VIII Congresso Internacional de Administração em Oftalmologia?
Ursulino: As melhores possíveis. Salas cheias e grande procura pelos cursos e workshops. Estamos trabalhando duro para oferecer um congresso inovador, com temas atuais e repetiremos algumas das ações que foram sucesso no Congresso Nacional, como ao sequência de cursos Esposas (os) Gestores, Marketing em Saúde e Como usar melhor o seu Iphone e Ipad, além da distribuição de 10 mil reais em prêmios.
UV: A SBAO tem alguma política de acesso à informação voltada para os estudantes de medicina e ou residentes em oftalmologia?
Ursulino: Possibilitamos a associação aos estudantes e residentes e disponibilizamos inscrição gratuita para o próximo Congresso Internacional, garantindo a participação destes.
UV: E os demais profissionais da saúde ou vinculados aos serviços de oftalmologia como atendentes, enfermeiros, administradores etc, também têm espaço na SBAO?
Ursulino: Uma das nossas metas foi ampliar o leque de sócios entre os colaboradores dos médicos oftalmologistas e os profissionais interessados podem se associar.
UV: Finalizando, qual é o segredo para o sucesso de qualquer gestão?
Ursulino: Sem dúvida é saber escolher os parceiros e realizar um trabalho em equipe. Pessoalmente, costumo abraçar os desafios que a vida me propõe com dedicação.
Talvez a receita do sucesso da atual gestão tenha sido a liberdade de ação supervisionada, enxergar além do presente e muito trabalho.
Administração em oftalmologia passa a ser conteúdo da prova de Especialização
SBAO anunciou a aprovação, pela Comissão de Ensino do CBO, da inclusão da disciplina
“Administração em Oftalmologia (Pública e Privada)” como conteúdo obrigatório nos cursos de prova de título de especialista a partir do ano que vem.
O presidente da entidade, Mário Ursulino, afirmou que se tratava de uma reivindicação antiga e que a disciplina irá agregar aos oftalmologistas, preparando-os para enfrentar a dura rotina administrativa.
“Quando saem da faculdade, a maioria dos oftalmologistas se depara com um mercado agressivo que não sabem operar”, afirma, lamentando que nem todas as residências brasileiras, no momento, abordem o tema em suas grades curriculares.
Considerando a iniciativa uma das grandes conquistas da sua gestão, Ursulino lembra que muitos especialistas assumem cargos públicos de gestão em oftalmologia que demandam conhecimento em administração. E mesmo no consultório privado, o conhecimento irá agregar a todos os colegas.Autor: Repórter: Adriana do Amaral – Revista Universo Visual, Ed. 63.