O caderno Revista da Cidade, do Jornal da Cidade, veiculou um artigo sobre Retinopatia Diabética em sua edição do último final de semana. Publicado na coluna de Dr. Raimundo Sotero, o artigo é fruto de uma parceria com Dr. Gustavo Melo, retinólogo do HOS.
Confira aqui a matéria na íntegra:
Retinopatia diabética: como evitar e como tratar
Dentre as complicações que podem acometer o paciente diabético mal controlado, podemos destacar uma em particular, que é extremamente traiçoeira: a retinopatia diabética. Infelizmente, trata-se de uma patologia ocular que pode levar rapidamente o indivíduo a um quadro de cegueira sem que ele perceba a gravidade do seu estado clínico-oftalmológico.
Segundo dados estatísticos nacionais, o diabetes melltitus acomete entre 10% e 15% de nossa população, sendo que em sua maioria a do tipo 2, destacando que no olho a retina é a região mais comumente e gravemente atingida.
A retinopatia diabética, nome técnico dado a essa complicação ocular, é uma das principais causas de cegueira no mundo, chegando a ser responsável por 12% dos casos de perda de visão nos Estados Unidos. No Brasil, foi constatado que a retinopatia diabética, somada à degeneração macular, é a principal causa de cegueira não-prevenível em pessoas idosas em um estudo realizado em São Paulo.
Estima-se que todos os portadores de diabetes tipo 1 e 60% daqueles com o tipo 2 da doença desenvolvam a retinopatia diabética após 20 anos de doença. Por isso, é extremamente importante que seja feito um acompanhamento de perto de todos os diabéticos. Nesse sentido, recomenda-se que eles sejam consultados regularmente por clínicos ou endocrinologistas e que seja feito um exame oftalmológico completo com certa regularidade, o que certamente irá incluir uma minuciosa avaliação de retina, pelo menos uma vez ao ano, salientando, no entanto, que aqueles que já têm algum tipo de retinopatia diabética devem fazer um acompanhamento ainda mais intensivo, ou seja, com reavaliações a cada dois ou três meses.
Além do tempo da doença, outro fator que leva ao surgimento ou agravamento da retinopatia diabética é o controle inadequado da glicemia (nível de açúcar no sangue), pois sabe-se que com certeza quanto pior for o seu controle, maior será o risco de perda visual pelo diabetes. Outros fatores que também contribuem para o desenvolvimento da retinopatia diabética são a presença de hipertensão arterial, doença renal, altos níveis de colesterol e gestação, destacando de forma bem particular que é preciso ter uma atenção especial a essa última, porque gestantes previamente diabéticas têm risco aumentado de desenvolver ou até de piorar uma retinopatia diabética pré-existente.
Os principais sintomas observados pelos diabéticos podem ser> flutuação de visão, embaçamento ocular constante, pontos ou linhas escuras no campo de visão, além de perda visual súbita. Os especialistas em retina frisam sempre que muitos casos não apresentam quaisquer dos sintomas acima mencionados e já podem apresentar a doença num estágio mais avançado. Por isso, é fundamental referir que só com avaliações regulares pode ser possível fazer o diagnóstico no momento certo.
O exame clínico oftalmológico é capaz de detectar a maior parte das alterações causadas pelo diabetes no olho, sendo o exame de fundo de olho (ou mapeamento de retina) sua etapa mais importante, que é um exame realizado após dilatação da pupila proporcionada por colírios.
Em casos de dúvida e para uma melhor complementação, podem ser solicitados exames adicionais, como, por exemplo, a retinografia fluorescente ou angiofluoresceinografia, que se trata de um exame em que são tiradas fotos do fundo do olho após uma injeção venosa no braço do paciente de um corante chamado fluoresceína. Com isso, torna-se possível se avaliar vazamento de líquidos na retina, bem como detectar a presença de vasos anômalos, além do que é um exame que proporciona a detecção mais precoce dos primeiros sinais da retinopatia diabética.
Outro exame complementar muito utilizado e extremamente importante é a tomografia de coerência óptica ( do inglês, OCT), que é um exame que realiza a medida da espessura central da retina e identifica a presença de fluido intrarretiniano, que é mais conhecido como edema macular diabético.
Apesar de todos os riscos da doença, existem formas de prevenir ou, até mesmo, tratar com excelentes resultados a retinopatia diabética. Um dos que mais se destacam entre eles é o tratamento com aplicação intraocular de laser, considerado como sendo o mais eficaz e consagrado de todos os métodos, pelo fato de que sua principal função é de cauterizar os vasos anômalos que costumam levar ao sangramento dentro do olho, considerando que, isso posto, quando conseguimos realizar no momento certo, sempre aliado a um bom controle glicêmico, resulta com isso em uma forte arma na prevenção da perda visual.
É extremamente importante frisar que essa conduta consegue, em geral, proporcionar a manutenção da visão, mas infelizmente é de pouca valia em conseguir promover o ganho da visão, anteriormente existente.
Em casos de edema macular (excesso de líquido na macula) no diabético, e principalmente quando ocorre vazamento de líquido dentro da retina, consideramos como melhor tratamento na atualidade a aplicação de medicações intraoculares antiangiogências, como por exemplo, a bevacizumabe (Avastin®), o ranibizumabe (Lucentis®) e a aflibercept (Eylia® ), que são medicações que conseguem inibir o vazamento do líquido, além de serem capazes de proporcionar significativo ganho de visão nas fases mais precoces da doença ocular.
Habitualmente, o tratamento é realizado no centro cirúrgico, mas devemos salientar que como esses medicamentos permanecem por tempo limitado no olho é possível que seu efeito se perca após algumas semanas e nesse caso a visão volte a piorar. Em decorrência disso, preconiza-se que se faça um esquema de injeções seriadas, com um intervalo mensal , devendo, no entanto, considerar que o número total de aplicações dependerá da espessura da retina, do ganho de visão e principalmente do controle glicêmico ao longo do tratamento, porque, como se sabe, diabéticos bem controlados costumam apresentar melhora visual muito mais significativa com estas medicações do que os mal controlados, e que, mais do que isso, pode significar uma menor necessidade do número de injeções prescritas pelo oftalmologista.
Convém reforçar a informação de que em situações mais graves, como, por exemplo, nos sangramentos intensos intraoculares, ou quando ocorre deslocamento de retina, pode ser necessária uma cirurgia, muitas vezes de emergência, chamada de vitrectomia, mas essas são situações consideradas como muito graves, apresentando em geral uma visão final bastante reduzida, mesmo com a realização de um tratamento aparentemente bem sucedido, ou seja, consequentemente, podemos afiançar que a palavra-chave para evitar a retinopatia diabética é a prevenção.
Finalizando, podemos definir quais são as principais recomendações para prevenir a doença:
– Controle Glicêmico rigoroso
– Acompanhamento com clínico geral ou endocrinologista periodicamente
– Exame oftalmológico, com avaliação da retina, anualmente nos casos em que não houver retinopatia diabética.
– Exame de retina trimestral ou mais frequentemente quando houver sinais de retinopatia diabética.