Embora não seja tão conhecido quanto outros problemas da visão como a Miopia e o Astigmatismo, o Ceratocone é uma doença ocular muito mais comum do que se imagina. Atinge com mais frequência os adolescentes e jovens. Para conhecer mais sobre o Ceratocone, conversamos com o oftalmologista Allan Luz, especialista em córnea do Hospital de Olhos de Sergipe. Dr. Allan também é membro da Sociedade Americana de Catarata e Cirurgia Refrativa – ASCRS, e, em março, esteve apresentando trabalhos em San Diego, na Califórnia.
O que é Ceratocone?
Ceratocone é uma doença ectásica da córnea. Trata-se de um afinamento corneano incomum associado à alta irregularidade. Miopia e astigmatismo são suas principais características.
É uma doença simples?
Se seus filhos adolescentes coçam os olhos com frequência e o grau dos óculos deles aumenta todo ano, é motivo para preocupação.
Precisa de atenção?
Como hoje conseguimos tratar precocemente, a visita a um especialista em córnea é muito importante e pode salvar a visão do paciente que apresente os sintomas dessa doença.
– O que causa?
As causas são geralmente genéticas. Hoje sabemos que existe esta predisposição genética e, caso fatores ambientais determinantes também possam ser detectados, como coçar os olhos frequentemente, é possível que haja uma precipitação no aparecimento da doença. É por esta razão que é preciso estar sempre atento.
– O Ceratocone tem cura?
Atualmente, já é possível tratar a doença em todas as suas fases, desde as mais iniciais até mesmo aquelas em que a doença já apresenta um quadro mais evoluído.
– Quais são os sintomas?
Os principais sintomas, e que geralmente representam a maior parte das queixas dos pacientes que sofrem de Ceratocone, são uma qualidade visual muito ruim e o aumento do grau dos óculos periodicamente.
– Como é feito o diagnóstico?
Primariamente, ele é feito através de exame oftalmológico adequado, no qual o oftalmologista consegue detectar casos avançados, como por meio de exames de imagem da córnea. Nos anos 80, o melhor exame era a Ceratometria, e, nos anos 90, a Videoceratoscopia computadorizada revolucionou o diagnóstico do Ceratocone. Hoje, o diagnóstico pode ser realizado através da Tomografia da Córnea (imagens de câmera Scheimpflug e Tomografia de Coerência Óptica), o que representa uma nova revolução com o diagnóstico precoce que permite o tratamento em uma fase na qual o paciente provavelmente nem sentirá os transtornos da doença.
– Quem afeta e quem está mais vulnerável ao Ceratocone?
A maior incidência da doença pode ser encontrada em pacientes da segunda e terceira década de vida com alergia ocular e que coçam os olhos com mais frequência.
– Como é feito o tratamento da doença?
Hoje, o Ceratocone é uma especialidade da oftalmologia devido a tantos tratamentos e à sua variabilidade de opções. Conseguimos personalizar o tratamento para cada paciente, desde por meio do Cross-Linking de colágeno para pacientes em estágios iniciais com boa visão ainda, até os implantes intracornenos para recuperar a forma mais regular da córnea e melhorar a visão, além dos transplantes personalizados para os casos mais avançados, nos quais conseguimos transplantar apenas a parte doente da córnea, preservando a porção sadia, o que diminui o risco de rejeição inerente a qualquer transplante.
– O que é o Cross-Linking e como ele pode ajudar no tratamento?
O Cross-Linking é um tratamento realizado quando a doença está em sua fase inicial, na qual o paciente ainda tem boa visão. Através dele, acontece uma alteração molecular nas fibrilas de colágeno da córnea que induzem o fortalecimento de sua arquitetura, evitando o progresso da doença.
– E o Anel Intracorneano?
Trata-se de um implante dentro da córnea que corrige as irregularidades causadas pela doença e que permite ao paciente recuperar a visão perdida. Esse método pode ser combinado com o CXL (Cross-Linking) em casos selecionados.
– Quais as técnicas mais avançadas para o tratamento da doença?
Recentemente, em San Diego, na Califórnia, apresentamos trabalhos mostrando como o diagnóstico pode ser feito mais precocemente com a Tomografia Ocular. Assistimos também colegas europeus descrevendo que a utilização do laser de Excimer para realizar a deseptelização corneana no procedimento de CXL (Cross-Linking), como realizamos no HOS, é mais adequada do que o procedimento manual, pois o epitélio da córnea no Ceratocone tem espessuras muito diferentes. Hoje os implantes intracorneanos estão cada vez mais personalizados e os transplantes, mais seguros.
– É comum?
Cada vez mais diagnosticamos a doença com facilidade devido aos novos métodos de diagnóstico. Antigamente, muitas pessoas perdiam a visão e o diagnóstico tardio, quando apenas um transplante da córnea era possível para a reabilitação visual do paciente.
– Existem tratamentos alternativos?
O melhor tratamento é a consulta periódica a um oftalmologista de confiança que esteja atento às novas modalidades de diagnóstico e tratamento.
– Como pode ser prevenido?
Se eu pudesse aconselhar as pessoas, pediria para que elas não cocem os olhos e também não deixem de fazer visitas periódicas ao oftalmologista. Autor: HOS