Entrevista com Dr. Fábio Morais
Visão embaçada, distorcida ou com manchas, dificuldades de distinguir cores e perda progressiva da acuidade visual. Esses são os principais sintomas da retinopatia diabética, nome científico dado às alterações na visão causadas pela diabetes, doença que está entre as três principais causas de cegueira no mundo. A alta concentração de glicose no sangue altera a permeabilidade dos vasos sanguíneos da retina, que podem se romper e levar à perda da visão. Por isso é importante que os diabéticos mantenham controlados seus níveis de açúcar no sangue e façam consultas regulares ao oftalmologista, para evitar possíveis agravamentos do problema.
De acordo com o médico Fábio Morais, que integra a equipe de oftalmologistas do Hospital de Olhos de Sergipe (HOS) e atua nesta área há 13 anos, todo diabético corre o risco de perder a visão, mas os exames preventivos, o controle da doença e o tratamento correto reduzem as chances de isso acontecer. “Os diabéticos precisam fazer exames oftalmológicos regularmente, uma vez ao ano. Felizmente, uma minoria acaba tendo perda de visão. Existem dois principais fatores de risco para que o paciente tenha problemas na retina decorrentes de diabetes: o tempo de surgimento da doença e a falta de controle. Os pacientes que têm controle melhor têm chances menores de ter problema na visão. É comum encontrar pacientes de 50 anos de idade, com 40 anos de diabetes, e que não sabem da existência da doença”, diz.
Fatores genéticos e hereditários também interferem no tratamento, pois há pacientes que até fazem um bom controle, mas sua diabetes é tão severa que avança a ponto de comprometer o olho. A diabetes associada a outras doenças, como hipertensão, e ao colesterol alto, é outro fator a ser levado em consideração, porque agrava o caso e aumenta as possibilidades de o paciente engrossar as estatísticas do número de pessoas com maior risco de se ter retinopatia. Fábio Morais explica ainda que, além do tratamento com oftalmologista, o diabético deve ter uma alimentação saudável baseada em avaliação nutricional, fazer atividade física, utilizar a medicação indicada pelo endocrinologista e cuidar da parte emocional.
“É uma atividade médica multidisciplinar. Há pacientes que trata o olho, mas não controla a doença. Assim não se tem uma evolução tão boa e nós, oftalmologistas, ficamos “enxugando gelo”, tratando o olho. Tem que ter entre quatro a cinco médicos acompanhando. O paciente diabético, ao chegar ao consultório, faz a consulta inicial, avalia a refração (exame de grau), mede a pressão intraocular e faz o exame de fundo de olho (fundoscopia, em que se examinam as artérias, veias e nervos da retina, localizada na parte posterior do globo ocular). Se o paciente é diabético tipo 2 (mais comum, causado por fatores genéticos acompanhados de maus hábitos, como consumo exagerado de açúcar, sedentarismo e obesidade), tem três anos de doença e o exame fundoscópico acusou normal, ele deve voltar dentro de um ano, para nova avaliação. Se o paciente começa a perceber pequenas alterações, pode encurtar este período ou, se já tiver indicação, partir direto para as modalidades de tratamento, que pode ser, por exemplo, com laser ou injeções intravítreas”, ressalta.
O segredo é não deixar para tratar o problema tardiamente, pois há situações em que os quadros são irreversíveis. “Já atendi vários casos de cegueira. Há pacientes que fazem exames regularmente e que têm bom controle da doença, não apresentando problema com a retina. Mas há aqueles que chegam ao consultório em uma fase tardia. Hoje em dia, se o paciente descobre que é diabético e faz o tratamento correto, a chance de perder a visão é menor”, conclui o oftalmologista.